segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Pontapés no português

Há dias escrevi sobre os fostes, comestes, fizestes e na altura disse que talvez um dia viesse falar sobre aqueles que já foram os meus erros mais comuns na língua portuguesa. Pois bem, hoje é o dia.


Como se diz (e escreve) 200 gramas de fiambre?
Quando era miúda dizia frequentemente duzentas gramas de fiambre. Mas após ter sido tantas vezes chamada a atenção pelos meus pais, lá corrigi para duzentos. Eu compreendo que neste caso seja complicado para muita gente dizer corretamente. A palavra grama termina em "a" logo intuitivamente pensa-se ser uma palavra do género feminino e por isso 200, ao estar em concordância, deve ser dito duzentas. Só que a palavra grama é uma palavra homónima, isto é, diz-se e escreve-se da mesma maneira, mas tem dois significados diferentes. 

Por exemplo, a  palavra canto. "Enquanto me sento no canto do sofá, escuto com atenção o canto do pássaro."

Com grama acontece exatamente o mesmo, mas com a particularidade de que o género da palavra também difere. Como podem ver no Dicionário Priberam da Língua Portuguesa a palavra grama assume vários significados, sendo que enquanto unidade de medida (peso) é um substantivo masculino, logo o correto é dizer-se duzentos gramas e não duzentas gramas.


Como se escreve? Amaste ou amas-te?
Ora aqui está um erro MUITO comum nos dias que correm (e que se difunde largamente pelas redes sociais) e que também eu dava quando era nova. Para mim era complicado saber a forma correta de escrever nestes casos, mas acabei por desenvolver um método infalível. Vou tentar explicá-lo aqui, mas não sei se é fácil, pois é um método "sonoro", baseado na forma como a palavra soa. Experimentem dizer as duas palavras dizendo "tracinho" pelo meio, ou seja, para cada uma delas digam "amas tracinho te". Usando como exemplo as duas frases a seguir, é óbvio que a sonoridade da palavra é diferente nos dois casos, certo? Então usando a sonoridade correta digam "amas tracinho te". Numa delas, na primeira, a palavra "amas" é uma palavra que existe, certo? Mas no 2º caso isso já não se verifica, o "amas" dito com a sonoridade correta é uma palavra que não existe. Então o truque está em usar o hífen quando a palavra antes do "tracinho" é uma palavra que existe, dita com a sonoridade correta para esse caso, e não usar o hífen quando a sonoridade correta transforma a palavra antes do tracinho, numa palavra que não existe. Espero que tenham compreendido, porque realmente este método não falha.
  1. "Tu amaste / amas-te muito a ti mesmo, não amas?"
  2. "Quantas pessoas já amaste / amas-te na vida?"


Descobrir ou descubrir?
Para esta não consigo encontrar explicação, só sei que houve uma altura em que não sei porquê achava que se escrevia descubrir em vez de descobrir. E a verdade é que mesmo sendo chamada à atenção para isso, da vez seguinte lá dava o mesmo erro. Demorei a atinar :)


À ou há?
Este erro já é muito antigo, mas nos dias que correm é um dos mais praticados por toda a gente (até nos meios de comunicação social!). É muito fácil de corrigir e não dar este erro. Só é preciso substituir na frase o à / por outra forma do verbo haver, e ver se a frase continua a fazer sentido. Se sim, então deve usar-se o , se não deve usar-se o à. Basicamente a ideia é a de que se se está a fazer referência a algo temporal (1 segundo, 1 hora, 1 dia, 1 mês, 1 ano, 1 século, o que seja), então tem de se usar o verbo haver. Simples, não é?

Vamos ver duas frases de exemplo.
  1. À / muito tempo, numa terra distante, ...
  2. Vou à /   farmácia comprar um medicamento.
Substituindo agora em cada uma delas por outra forma do verbo haver.
  1. Havia muito tempo, numa terra distante, ...
  2. Vou haver / havia / ... farmácia comprar um medicamento.
Na primeira é claro que há uma referência temporal logo a forma correta é o . Já na segunda isso não acontece, logo deve ser usado o à. Por exemplo, na segunda, poderia dizer-se antes assim "Vou a uma farmácia comprar um medicamento", está a haver referência a um local e não a um tempo.


Acentuação / sílaba tónica
Muitas vezes tem-se dificuldade em saber onde colocar o acento numa palavra. Antes de mais tem de se saber que o acento deve estar na última, penúltima ou antepenúltima sílaba da palavra, sendo que essa sílaba deve ser a sílaba tónica. Assim, uma forma, é determinar qual é a sílaba tónia, pois se a palavra for acentuada o acento é colocado nela. Eu uso a técnica infalível, que me foi ensinada na escola primária (atual primeiro ciclo do ensino básico) e da qual nunca mais me esqueci, que é a de "chamar pela palavra". Por exemplo, se formos a andar na rua, virmos um amigo nosso do outro lado do passeio e o quisermos chamar, falamos um pouco alto e pronunciamos bem a palavra, certo? Experimentem chamar pela Beatriz, pelo António e pelo Guilherme. Em cada um dos 3 casos tenham atenção em que sílaba se demoraram mais. Na Beatriz foi na "triz", no António foi na "tó" e no Guilherme foi na "lher". Pois bem, estas são as sílabas tónicas de cada uma das palavras. Este "truque" funciona para qualquer palavra. Se quiserem saber qual é a sílaba tónica (e como se acentua) das palavras imcompetente, concordância, árvore, hipopótamo..., só precisam de chamar por ela e logo a "dúvida" fica esclarecida.


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[NOTA: Nos exemplos dados, a azul está a forma correta; a vermelho a errada.]

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